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Walter Vetore

2.9.99, UERJ. Walter Vettore (ex-Presidente)

Ação Unitiva pela Democracia Muitos de nós advogados, amigos fiéis do papel, ainda estranham a escrita no computador. Papel só precisa de olhos para ler, é de fácil manuseio, apenas exigindo cuidado na guarda, para recuperação depois, e é econômico, se bem que feito de árvores... Nele, em geral, imprimimos nossas manifestações escritas. Claro, nada impede que, como no início da civilização, escrevamos na pedra, esculpindo as palavras, ou pintando-as na madeira ou no tecido, e assim alguma coisa boa ficará gravada no coração para sempre; podemos compor, pilotando um aviãozinho entre as nuvens, com fumaça branca contra o céu azul, o anúncio do amor fugaz, que se apaga logo; porém, seja traçada na areia a feia perfídia, a infâmia que a onda anistia no fundo do mar. Agora, o bom mesmo será lançar a mensagem na tela eletrônica – quiçá a decifre algum nauta perdido neste vasto mundo.

Nossa imprensa sindical não se compraz, como certas publicações simplórias existentes por aí, a simplesmente anunciar festas e aniversários, a fazer colunismo recreativo, com um ou outro artigo jurídico e as costumeiras louvações personalistas. Longe disso, importa que se apresentem como um fórum de debates sobre temas de interesse para a sociedade brasileira, nestes tempos de crise, veículos que são de formação do pensamento, evolução e renovação de idéias.

Quem és, a que vens? – inquieta-se o poeta.

O desafio é instigante. Os amigos, a simpatia, a camaradagem sindical nos estimulam. Dizia Thiago de Mello: Não, não tenho caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar...

Ajuda-nos o fato de termos, além da unicidade diretiva, uma unidade política. Não uma uniformidade. Explico: nessa integração respeita-se a diversidade, o pluralismo, o debate democrático e transparente. Numa relação de semelhança: cada dedo da mão é diferente do outro e se compõe e se articula no serviço que presta; a outra mão ajuda, não luta contra, atrapalha ou dificulta. Sozinhos não damos conta do recado.

Com os Sindicatos federados poderemos desenvolver amplo trabalho que, na medida do seu reconhecimento, proporcionará os apoios e recursos que lhe assegurem continuidade e desenvolvimento.

Estamos aqui de olhos postos num futuro melhor para os nossos representados e para a obra da Justiça. Testemunhando, entretanto, o espírito mau do fim da década, de forte odor passadista; o direito atrasado sempre chega depois que a realidade movente já se instalou. Direito que não mais se reconhece no real. A Justiça, exaltada bem supremo da civilização, alvo de cotidianos e brutais ataques – bem por isso – a mais vulnerável: a conciliatória e arbitral-normativa – eis que o bárbaro habita até entre os doutos; e nessa hostil ambiência não percebem a alternativa mais nova e dinâmica que corre à frente; enfim, faliu ao não superar o arcaico, o retrógrado, que ressurgem desarrumados por monstros do capital neoglobal hegemônico a exigir no combate forças cosmológicas.

Esse é o campo pré-formado onde se desenvolve o nosso destino de nação soberana que querem fraturar. Incontestável é a chave saber é poder, é preciso ensinar a aprender. Conhecer o fenômeno social, não raro mais complexo do que parece ao crivo momentâneo, o código que faz o princípio da vida vencer sempre e explica sua razão de ser, ou pelo menos oferece uma pista fecunda para perceber-lhe o mecanismo interno, ainda que este, como de hábito, lute por conformar-se funcional ou instrumentalmente. Esse o segredo do sucesso, de que a OAB é um bom exemplo.

A Federação, por seu turno, está segura e consciente dos benefícios que pode trazer à comunidade trabalhista. Essa a expressão enigmática que a torna forte por si mesma e a leva a propor uma ação sindical não descarnada, mecânica, mas concreta, orgânica e estruturadora, que contenha a chama, que faz da fogueira algo mais que lenha e cinza.

Age numa situação cambiante que não recomenda a disjunção infértil, antes conjugação produtiva, autorecriadora. Máxime entre Sindicatos e a OAB. Caminhamos para a consolidação do sindicalismo de advogados, que tem muito a fazer e sabe como fazer – carece apenas de meios suficientes, eis que dispõe de gente comprometida com seus objetivos e agenda em prol da profissão, do direito e da instituição judiciária. Venham somar conosco. A atuação direcionada ao coletivo unifica o grupo dirigente, é mesmo uma necessidade humana básica e gratificante.

O salto organizativo hoje facilitado pelo avanço tecnológico é uma realidade para nos integrarmos a partir de uma comunicação rápida, via internet. Vamos orçar, planejar e propor a modernização de nossas entidades, sua intercomunicação também por vídeo. Economizaremos dispendiosas e cansativas viagens. Sairemos da descontinuidade comunicativa para a troca instantânea de informações; para reuniões programadas na sede em São Paulo e decisões sem delongas, a tempo e hora; para a condição de todos estaremos em contato permanente. Isso permitirá o debate, o intercâmbio de idéias e experiências, e, enquanto entidade de âmbito nacional, garantida pela Constituição da República, o ingresso e a intervenção em várias questões que suplantem interesse local ou regional.

É a chegada do nosso admirável mundo novo, data venia de Aldous Huxley.


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